“Há assinaturas que não precisam de caneta. Há contratos escritos no corpo, em decisões sem tinta, em portas que se fecham por dentro.” — (Anotação de R.)
[...]
Mas havia barreiras invisíveis entre nós. Eu não era uma mulher. Era ativo contratado. Produto com comprador já definido, pagamento já efetuado, com data de entrega agendada. E homens na posição dele não sobrevivem violando esse tipo de contrato. Não importa o quanto desejem.
Tocar em mim era assinar sua própria ruína e ele não estava disposto a pagar o preço.
Levantei da cama devagar. Cada movimento deliberado. Cada passo calculado como quem atravessa campo minado.
Eu sabia que mexia com ele. Sempre soube.
Não era vaidade minha. Não era ilusão. Era pura observação.
Nas poucas vezes que nossos caminhos tinham se cruzado naquela casa, sempre sob vigilância de Aurélia, sempre em contextos “formais” — eu tinha catalogado cada sinal, por isso o escolhi.
A forma como ele me olhava quando pensava que eu não estava prestando atenção.