“Minha salvação não veio da lei, nem da polícia, nem de heróis. Veio do meu próprio corpo se tornando inútil para eles.” — (Anotação de R.)
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Saí da capela pouco depois. O corredor cheirava a desinfetante hospitalar misturado com café velho de máquina automática. Vontade de morder a língua até sangrar só pra sentir algo concreto, algo que não fosse memória fragmentada.
Em vez disso, respirei. Fundo. Devagar. O jasmim fantasma que mora nas minhas memórias passou de leve — perfume que não existe mais em lugar nenhum, mas que meu cérebro insiste em reconstituir com precisão cirúrgica.
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Mais tarde, na sala branca da Dra. Iasmim, a cadeira de couro recebeu meu corpo como quem segura alguém voltando do fundo do mar — com cuidado, mas sem pressa. A médica ajeitou o gravador digital sem urgência, movimentos econômicos de quem já fez isso mil vezes.
— Sessão extra hoje? — perguntou, com o tom de quem oferece água a quem acabou de atravessar deserto. — Só se o corpo aguentar. Não vou t