“Há despedidas que não são tristes: são apenas honestas demais para fingir eternidade.” — (Anotação de R.)
A manhã entrou pelas cortinas abertas clara demais, cruel demais para quem tinha dormido tão pouco. Ficamos os dois acordados antes de admitir um para o outro, fingindo sono por alguns minutos a mais, adiando o inevitável.
O silêncio, dessa vez, não era aquele confortável de ontem. Era um sapato ligeiramente apertado que você insiste em usar porque gosta dele, mesmo sabendo que vai machucar.
Matheo foi o primeiro a arriscar uma frase deliberadamente neutra, testando o terreno:
— Café?
— Melhor água.
Rimos, mas era riso educado, social, artificial. O som bateu na parede e voltou sem encontrar casa onde morar.
Eu reconheço quando a vergonha não nasce de culpa, mas de autodefesa. De não saber nomear o que aconteceu nem onde guardar aquilo dentro do peito. E reconheci nele a pergunta que ele não queria fazer em voz alta por medo de machucar a nós dois: “o que é isso para você? o que