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Capítulo 58: Manhã de Mármore

“Há despedidas que não são tristes: são apenas honestas demais para fingir eternidade.” — (Anotação de R.)

A manhã entrou pelas cortinas abertas clara demais, cruel demais para quem tinha dormido tão pouco. Ficamos os dois acordados antes de admitir um para o outro, fingindo sono por alguns minutos a mais, adiando o inevitável.

O silêncio, dessa vez, não era aquele confortável de ontem. Era um sapato ligeiramente apertado que você insiste em usar porque gosta dele, mesmo sabendo que vai machucar.

Matheo foi o primeiro a arriscar uma frase deliberadamente neutra, testando o terreno:

— Café?

— Melhor água.

Rimos, mas era riso educado, social, artificial. O som bateu na parede e voltou sem encontrar casa onde morar.

Eu reconheço quando a vergonha não nasce de culpa, mas de autodefesa. De não saber nomear o que aconteceu nem onde guardar aquilo dentro do peito. E reconheci nele a pergunta que ele não queria fazer em voz alta por medo de machucar a nós dois: “o que é isso para você? o que
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