Capítulo 59: Voo Cego

“Quem promete não interferir ainda desloca o ar quando entra.” — (Anotação de R.)

Eu não estava pronta para a calmaria. A noite anterior me deixou com a impressão de que meu corpo tinha dormido no lugar errado, como mala esquecida no corredor. Acordei antes do despertador, ouvi a cidade sem fuso e aceitei: procedimento, não fé.

Check-out às oito, carro às oito e vinte, portão internacional às nove e cinco. O resto, eu alinharia no caminho.

No balcão, a atendente me ofereceu um assento de corredor “por conforto”.

Aceitei.

O conforto, às vezes, é só não ser encurralada por janelas. Entreguei o passaporte; ela digitou meu nome como quem recita um mantra que não conhece. Quando devolveu o documento, a etiqueta colada na capa tinha um número que não me disse nada. Só mais um voo. Só mais um retorno cobrado pelo destino.

No raio-x, retirei relógio, caneta e o mesmo colar que, agora, guardava segredo e rastreador. Passei. Respirei. Mandei três mensagens:

Uma para Dayse — Decolando hoje. Te l
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