"Ele tinha o dom de perceber o que os outros silenciavam. E era no não dito que morava a dor mais funda."
— Clarice Lispector (se Theo a tivesse lido)
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Theo Bellucci cresceu entre colunas de mármore, pisos que não rangem e jantares silenciosos onde o luxo era abundante, mas o afeto, escasso. A beleza da mansão, o requinte da mobília e o nome Bellucci gravado em cada taça de cristal não o protegiam do frio que sentia por dentro.
Desde cedo, Theo aprendeu a decifrar o mundo pelo silêncio. Era um menino quieto, mas atento. Observava tudo — o tremor nas mãos dos adultos, as palavras que não eram ditas, os olhares desviados. Não se contentava com o que via. Ele queria entender o que faltava.
O pai, Enzo, nunca foi ausente. Mas também nunca foi presente de verdade.
Estava lá. Em corpo. Em obrigações. Em promessas cumpridas. Mas o toque afetuoso, o abraço sem hora marcada, a espontaneidade... essas eram coisas que Theo desconhecia. O amor vinha medido, como um contrato sem cláusulas emoci