Quatro dias após o parto, o quarto ainda carregava o cheiro metálico do sangue seco, entranhado nas frestas do chão, nas fibras ásperas dos lençóis, no ar pesado que parecia estagnado, como se o tempo ali tivesse parado.
As cortinas, entreabertas com descuido, deixavam entrar uma luz pálida, quase indiferente ao milagre que havia acontecido ali. O ambiente era denso, saturado por noites sem dormir, choros entrecortados e o peso esmagador da sobrevivência que pairava como uma sombra.
Dayse mal conseguia se manter de pé, mas estava de pé.
Seus joelhos tremiam, ameaçando ceder a qualquer momento, enquanto a pele, fria e translúcida, parecia esticada demais sobre ossos frágeis. Os cabelos, úmidos de febre e esforço, grudavam na nuca, e os braços, exaustos, de tanto embalar, proteger e sustentar.
Cada músculo doía, cada movimento parecia um desafio, mas, ainda assim, ela estava inteira. Não intacta, mas inteira. Uma força silenciosa a mantinha ali, como se o amor que a consumia fosse maior