Algumas memórias, quando voltam, mudam não apenas o que sabemos sobre o passado. Mudam também quem somos no presente.” — (Alexandre)
(...) 14h. O café da Praça República fervia com vida urbana típica de tarde de quinta-feira. Escolhi mesa estratégica no fundo, de costas para a parede, visão clara de todas as entradas. Rafael estava posicionado três mesas à minha direita, fingindo ler jornal enquanto monitorava cada movimento no ambiente.
Alexandre chegou pontualmente, como sempre. Mesmo depois de três meses, meu corpo registrou sua presença antes dos meus olhos o localizarem ― aquela alteração sutil na densidade do ar que já tinha se tornado familiar.
Ele se aproximou da mesa sem pressa, movimentos controlados de quem sabe que está sendo observado. Sentou-se à minha frente, e por alguns segundos apenas nos encaramos, medindo mudanças que três meses tinham operado um no outro.
— Você está diferente — foi a primeira coisa que disse, voz baixa carregando observação que soava mais pessoal