“Se meu filho morrer porque eu não quis entrar num carro, eu nunca vou me perdoar.” — (Anotação de R.)
[Continuando Flashbacks de Renata...]
... O que eu não vi foi a outra tela, em outro computador, talvez em outro andar: sistema cruzando nome, idade, ausência de pré-natal registrado, gestante em terceiro trimestre, sem convênio, sem endereço consistente.
Alguém, em algum lugar, recebendo um alerta discreto.
Um clique a mais. Um e-mail automático. Um telefonema curto:
“Achamos uma possível correspondência. Nome e data de nascimento batem com um dos prováveis. Grávida. Terceiro trimestre. Hospital X. Já saiu em direção à Alameda Santa Verena.”
Eu só soube depois. Naquele momento, eu descia a rampa da saída principal quase acreditando que tinha escapado mais uma vez.
...
O ar lá fora tinha mudado.
Não era mais o ar neutro de hospital. Era outro: denso, grudento, carregado de sol de fim de tarde e algo mais que eu não conseguia nomear. Perigo, talvez. Mas eu estava cansada demais para o