Eu fiquei ali, na escuridão do quarto de Isabella, ouvindo sua respiração suave e calma, tentando encontrar alguma paz no meio do caos que ainda estava acontecendo fora daquela porta. O peso da situação era inegável, mas naquele momento, o que eu mais queria era poder afastar todo o sofrimento que Isabella carregava. Ela não merecia essa dor, não merecia ser levada para esse mundo sombrio tão cedo. Ela dormia tranquilamente ao meu lado, completamente alheia ao que estava acontecendo. Isabella era só uma criança. Ela não tinha culpa de nada disso. Mas a maneira como Matteo havia conduzido tudo… aquilo me deixava sem ar. Ele não sabia, ou não queria, ser o pai que ela precisava. Ele nunca saberá, ou talvez nunca tivesse a capacidade. Eu me perguntava se ele realmente se importava com ela ou se ela era apenas mais uma responsabilidade para ele, mais uma parte do jogo que ele tinha que jogar. Eu sabia que Matteo era um homem complicado. Eu sabia que ele não sabia como lidar com os senti
Eu me escondi na penumbra, no canto escuro da sala, onde a luz fraca do telefone iluminava apenas o suficiente para ver minha própria expressão calculista. O ambiente estava pesado, como se o ar tivesse se tornado mais denso, mais difícil de respirar. Tudo ao meu redor estava em silêncio, mas eu sabia que o que acontecia do outro lado da linha era tudo o que importava agora. Segurei o telefone com firmeza, a voz baixa e grave do outro lado da linha chegando com clareza, mas carregada de mistério. Eu já estava acostumado com aquela voz, sempre oculta, sempre sem rosto. O que importava era o que estava sendo dito, e o que ainda não havia sido dito. — Eu sei o que estou fazendo. — Minha voz soou fria e segura, como sempre. — Angeline... Tenho certeza de que ela trairá Matteo. Não há como negar isso. O comportamento dela mudou, a maneira como ela se afasta de tudo e todos. Do outro lado da linha, uma pausa. A respiração ficou mais pesada, mas não havia respostas imediatas, apenas o sil
Estávamos na rua, a brisa fresca da manhã batendo contra nossos rostos enquanto caminhávamos pelas calçadas de pedra. Isabella, com sua energia de criança, corria à frente, saltitando de um lado para o outro, como se o peso do mundo não a alcançasse. Sofia estava ao meu lado, seu olhar distante, mas por um momento, senti que ela também precisava desse respiro, dessa fuga, tanto quanto eu. — Ela está se divertindo, não está? — Sofia comentou, observando Isabella brincar com as folhas secas que havia encontrado no caminho. Assenti, mas meu coração não conseguia se livrar da inquietação. Tudo parecia tão normal, tão simples, mas no fundo eu sabia que nada era simples. A casa ainda estava carregada com o peso da morte de Olivia, e a frieza de Matteo só piorava a situação. Eu não conseguia ignorar o que ele havia feito com Isabella. A maneira como ele a tratou. — Ela parece mais leve assim. — respondi, olhando para Isabella, mas minha mente estava longe. A imagem de Matteo, com seu olha
A sede estava fria, como sempre. O cheiro de cigarro misturado ao perfume forte de madeira antiga pairava no ar. Eu não me importava com isso. Estava concentrado em outra coisa, tentando bloquear o que acontecia fora daquele escritório. Angeline, Isabella, tudo o que envolvia minha casa... nada disso me tirava o foco do que realmente importava: a máfia. A família. Meu império. Os homens estavam em silêncio, observando-me atentamente, como se estivessem esperando algo de mim. Eu não dizia nada. Não precisava. O simples movimento de minhas mãos sobre a mesa já era o suficiente para que todos soubessem que, embora minha mente estivesse distante, eu ainda estava no controle. Aquela reunião estava longe de ser comum. Giovanni, estava à minha frente, me aguardando para dar a palavra. Os outros homens que faziam parte da reunião estavam em seus lugares, atentos a qualquer movimento meu. — Don... — Giovanni começou, sua voz firme, mas com um tom de respeito que não deixava espaço para ques
A casa estava silenciosa demais, o tipo de silêncio que parece ecoar em cada canto, se infiltrando nos meus pensamentos. Eu passei pela sala, onde as sombras da noite já começavam a tomar conta, e encontrei Isabella no sofá, com os olhos cansados e a expressão fechada. Ela estava tão quieta, tão distante. Eu sabia que ela estava processando tudo o que aconteceu, mas ainda assim me doía vê-la assim. Eu não sou a mãe dela, nunca fui, mas eu me importava, de um jeito complicado, confuso. Sentei ao lado dela, tentando não invadir seu espaço, mas sentindo a necessidade de me aproximar, de oferecer algum tipo de conforto. Ela me olhou por um instante, seus olhos grandes e tristes, e então desviou o olhar, focando na televisão desligada à sua frente. Eu não sabia como falar com ela. Como consolar uma criança que viu sua vida ser virada de cabeça para baixo, que perdeu a mãe de uma forma tão cruel. — Isabella... — minha voz soou suave, mas tremia um pouco, como se eu estivesse tentando enco
A raiva me corroía por dentro. Eu saí do quarto e fechei a porta com força, sem me importar se ele ia atrás de mim. Não foi. Claro que não. Matteo era orgulhoso demais pra isso. Ele tomava decisões como se fosse um rei, como se todos nós fôssemos apenas peças no tabuleiro dele. E Isabella… Isabella era só mais uma peça a ser reposicionada quando conveniente. Desci as escadas com o coração acelerado. Minha cabeça martelava com pensamentos desorganizados. Internato? Aquela menina precisava de amor, de cuidado, não de ser jogada em um lugar frio e distante. Que tipo de homem acha que luto se resolve com disciplina? Mas ele não entendia. Porque Matteo nunca perdeu ninguém da forma que Isabella perdeu. Porque Matteo era um homem criado na violência, moldado na guerra e na máfia, endurecido por perdas que ele nunca soube sentir. A dor dele era engolida a seco, nunca compartilhada. E era exatamente isso que ele queria ensinar pra filha: engolir a dor e se calar. E eu? Eu estava no me
Eu não gosto de ser desafiado.E muito menos dentro da minha própria casa.Muito menos pela minha mulher. Desde que tudo começou com Isabella, eu venho tentando manter a porra da razão. Tentando controlar a tempestade que cresce dentro de mim, engolindo minha sanidade aos poucos.Mas Angeline?Ela está forçando a barra. Recebi uma ligação do Giovanni no meio da tarde.Só o fato dele me ligar para falar de Isabella já acendeu o alerta.Mas foi quando ele começou com aquele tom de quem tenta me “fazer entender” que eu soube.Angeline meteu ele nessa história. — Você tem ideia do que está fazendo, Matteo? — perguntou Giovanni, com a voz firme, mas não desrespeitosa. — Tô fazendo o que precisa ser feito. Isabella precisa de disciplina, não de mimos. — O que ela precisa é de você, porra. De presença. De pai. E Angeline… ela tá tentando manter a porra toda de pé enquanto você vira as costas. — Não me fode, Giovanni. Você sabe como essas coisas funcionam. Emoção demais só enfraquece.
— Vem, Angie! Pula comigo! — Isabella gritou, com as mãozinhas erguidas e um sorriso que iluminava o rosto inteiro. Ajeitei a parte de cima do biquíni, talvez um pouco justo demais, mas era o meu preferido, e pulei na água. O choque gelado foi revigorante, e a risada dela ecoando na piscina me fez esquecer, por alguns minutos, toda a tensão que vivíamos dentro daquela casa. — Você nada rapidinho! — ela disse, me abraçando. — Parece um tubarão! — Ei! Que falta de respeito com uma sereia profissional! — brinquei, apertando ela contra mim. Estávamos rindo, girando dentro da água, quando senti.O ar mudou. Ficou pesado. Carregado. Matteo. Me virei devagar e lá estava ele. Camisa social aberta, calça de alfaiataria, óculos escuros... e aquele olhar. Ciúmes.Puro, cru, possessivo. Ele me olhava como se eu tivesse cometido um crime. E o biquíni era a arma do delito. — Esse biquíni sempre foi assim… pequeno? — ele perguntou, sem rodeios, ignorando completamente o fato de Isabella est