As mãos de Miguel estavam firmes ao volante, mas eu percebia a tensão nos ombros dele. Ele não dizia nada, concentrado na estrada, e eu também não fazia questão de quebrar o silêncio. Às vezes, palavras não são necessárias. Às vezes, elas até atrapalham.
O hospital apareceu no horizonte e meu estômago se revirou. Engoli em seco, respirando fundo. A manhã estava bonita, com um céu azul límpido e algumas nuvens dispersas. Parecia irônico. A leveza do dia contrastava com o peso que carregávamos no peito.
— Tem certeza que quer fazer isso? — ele perguntou de repente, os olhos ainda voltados para a frente.
— Nunca tive tanta certeza de algo — respondi, e virei o rosto para ele. — Eu amo a sua filha, Miguel. Se eu puder fazer qualquer coisa para ajudá-la, nem que seja mínima… eu vou fazer.
Ele apertou levemente meu joelho e assentiu, sem conseguir falar. Eu sabia que ele estava grato. Sabia que ele sentia tudo, mesmo sem dizer. E isso bastava.
Chegamos ao hospital e seguimos pelo corredor p