O relógio marcava pouco depois das oito da manhã quando estacionei o carro no setor de desembarque internacional do aeroporto. O céu ainda estava encoberto, como se o mundo lá fora compartilhasse do meu estado de espírito: nublado, pesado. As palavras do médico da noite anterior não paravam de ecoar na minha cabeça. "Leucemia." O tipo de diagnóstico que parece tirar o chão. De novo. A mesma doença que levou minha esposa e agora ameaçava minha filha.
Apertei o volante com força e respirei fundo. Eu tinha que ser forte. Por Giulia. Por Isabella, que dormia com ela no hospital naquela noite como um anjo guardião. E agora, pelos pais de Helena. Eles mereciam saber.
Vi Roberto e Lourdes assim que cruzaram a porta automática do saguão. Estavam praticamente iguais à última vez que os vi, talvez um pouco mais grisalhos, talvez um pouco mais curvados pelo peso da idade… ou da dor não resolvida. Caminhei até eles.
— Miguel — disse Lourdes, ajeitando o lenço no pescoço com um ar formal demais pa