O céu de Sevilha estava começando a escurecer, tingindo o fim de tarde com tons alaranjados e suaves. Eu observava pela janela da cozinha o balançar calmo das folhas no quintal, enquanto o vapor da xícara de chá aquecia minhas mãos.
Giulia tinha dormido cedo, cansada da agitação dos últimos dias — e talvez também sentindo, ainda que sem entender, o turbilhão que pairava sobre os adultos ao seu redor.
Miguel tinha se trancado no escritório depois de colocá-la na cama. Eu sabia que ele precisava de espaço. Talvez eu também precisasse.
Mas meu coração estava apertado.
Tão apertado que a única coisa que consegui fazer foi pegar o celular, calçar os chinelos e ir até o quarto de hóspedes onde eu dormia — onde, de alguma forma, vinha tentando manter um limite imaginário entre a minha vida e a deles.
Sentei na beira da cama, puxei o cobertor sobre os ombros e disquei o número que sempre me dava alguma forma de chão. O número da minha mãe.
Ela atendeu na terceira chamada.
— Isa? Tá tudo bem, f