Acordei com a luz atravessando as frestas da cortina. O quarto ainda cheirava a calmante e arrependimento. Tentei me virar para o outro lado, mas o peso da noite anterior ainda estava ali — a discussão, o tom dele, o meu descontrole. Dormir não resolveu nada. Só adiou o que eu não queria encarar.
Hoje eu não tinha aula. Poderia ficar deitada, fingindo que nada aconteceu. Mas o som leve vindo do corredor — o arrastar de uma cadeira, o clique discreto de um frasco — me fez levantar.
Enfiei o roupão e caminhei em silêncio até o quarto de Clara. A porta estava entreaberta, e por um instante pensei em bater. Mas antes que minha mão alcançasse a madeira, a voz dele me congelou.
— Calma, pequena… é só um remedinho. Vai te deixar bem melhor.
Rodolfo estava sentado à beira da cama, com um copo d’água e uma seringa de dosagem. Os olhos dele estavam fundos, cansados, mas atentos. O mesmo homem que ontem parecia incapaz de priorizar a filha, agora estava ali, cuidadosamente conferindo cada milili