O som dos pneus molhados corta o silêncio dentro do carro. Clara dorme no banco de trás, o rosto pálido apoiado no ursinho que a acompanha desde bebê. Serena está ao lado dela, os olhos voltados para a janela, as mãos entrelaçadas no colo. A tensão entre nós é tão espessa que quase posso tocá-la.

O hospital deu alta há pouco. O diagnóstico foi simples — uma virose forte, febre alta. Nada grave. Ainda assim, ver minha filha com um acesso no braço, chorando de medo, me destruiu de um jeito que eu não quero admitir.

Quando estacionamos na garagem, Serena desce primeiro, abrindo a porta traseira e tirando Clara com cuidado. Eu sigo atrás, pego as bolsas e as receitas do médico. Lourdes já está esperando na porta da cobertura, o olhar preocupado.

— Como ela está? — pergunta.

— Melhor — Serena responde antes que eu diga qualquer coisa. — Só precisa descansar.

Subimos juntos, e o som da chuva contra os vidros parece ecoar por todo o apartamento. Serena leva Clara para o quarto e a deita na c