O sol já se punha atrás dos prédios, tingindo a sala com um tom alaranjado e calmo. A televisão passava os créditos do segundo filme — um daqueles de princesa que Clara insistiu pra gente ver. No início eu achei que fosse morrer de tédio, mas a risada dela, o jeito como se encolheu no sofá entre nós, fez qualquer cansaço parecer leve.
Agora, ela dormia. A cabeça apoiada na perna de Serena, os dedos pequenos segurando a barra da minha calça como se quisesse garantir que eu não fosse embora.
A respiração dela era lenta, tranquila. A febre tinha sumido. Serena fez carinho nos cabelos da menina, distraída, o rosto iluminado pela luz azul da TV. Por alguns segundos, esqueci de respirar.
Desde ontem à noite, eu vinha tentando encontrar as palavras certas pra me desculpar. Mas toda vez que olhava pra Serena, algo dentro de mim se retraía — talvez orgulho, talvez medo de admitir que ela estava certa.
Respirei fundo, fingindo atenção na tela.
— Serena — murmurei, sem desviar o olhar da TV. — E