O coração parece querer sair do peito enquanto estaciono o carro diante da escola. Nem desligo o motor antes de correr até a portaria. O vento frio corta o rosto, e tudo o que consigo pensar é no nome dela — Clara, Clara, Clara.
Quando a encontro na enfermaria, sentada numa maca pequena, o rosto pálido e os olhos marejados, sinto o mundo afundar sob os meus pés.
— Serena — ela murmura, estendendo os bracinhos. — Tô com frio.
Corro até ela, cobrindo-a com meu casaco e segurando-a firme contra o peito. — Calma, meu amor, vai ficar tudo bem, tá?
A professora me explica que a febre começou durante a aula e subiu rápido. Lourdes chega logo depois, ofegante, com o rosto tenso.
— Liguei pro seu pai — digo, tentando manter a voz firme. — Ele não atendeu.
— Eu também tentei — ela responde. — Melhor levarmos pro hospital, não quero arriscar.
Assinto. E é aí que lembro da carteirinha de Clara — Rodolfo havia me entregado há algumas semanas, dizendo que, “por precaução”, eu devia guardar na minha