O trânsito de São Paulo parecia um teste de paciência.
Cada farol vermelho, cada buzinada, cada minuto parado me lembrava que, enquanto eu esperava, minha filha estava doente — e eu, um idiota, nem tinha percebido.
Quando finalmente estacionei em frente à escola, saí do carro às pressas. Entrei pelo portão principal e segui direto para a secretaria. O cheiro familiar de giz e álcool em gel me atingiu junto com a sensação amarga de culpa.
Uma mulher de terno claro e coque apertado me recebeu assim que me viu.
— Senhor Montenegro? — perguntou, erguendo as sobrancelhas.
Assenti, ofegante.
— Sou eu. Onde está a Clara?
— Acalme-se, por favor. Ela está na enfermaria, descansando. — O tom dela era profissional, mas havia um toque de reprovação escondido entre as palavras. — Eu sou a diretora, Luciana. Pedimos para chamá-lo porque ela apresentou sintomas gripais desde anteontem.
— Anteontem? — repeti, a voz falhando.
— Sim. A professora relatou que Clara parecia sonolenta e não estava comendo