O cheiro da tinta a óleo misturado ao do café recém-passado sempre foi minha combinação favorita. Era quase como um ritual: ligar a música baixa no canto do ateliê, preparar a paleta com cores novas e deixar que o silêncio da manhã fosse preenchido apenas pelo barulho do pincel deslizando na tela. Mas hoje, por mais que eu tentasse me concentrar, a imagem que ocupava minha mente não era a dos girassóis que eu tentava pintar — era a de Giulia rindo, com aquele jeito tímido de abaixar o olhar, e o de Serena adormecida no colo dela.
A ponta do pincel tocou a tela, espalhando um tom vibrante de amarelo. Eu queria que fosse como a luz de ontem à noite, aquela que iluminava o rosto dela no restaurante japonês. Não era só a iluminação do lugar — era a luz que ela carregava, mesmo quando não percebia. Eu sabia pintar sombras, contrastes, perspectivas… mas nunca soube pintar o que via quando a olhava. Talvez nem precisasse. Talvez bastasse estar perto dela.
— Você tá diferente. — A voz de Mate