O amanhecer em Santa Aurélia trouxe um céu encoberto, o tipo de cinza que pressagia que algo está prestes a mudar. Isabel acordou antes de Gabriel, como se o corpo, mesmo em descanso, pressentisse a inquietude do dia.
Ele dormia ao lado dela, o rosto tranquilo — tranquilo demais.
Era o rosto de quem sabia esconder verdades.
Levantou-se em silêncio, colocou o robe e desceu para o escritório. O cheiro de papel e poeira a envolveu quando abriu as cortinas. A mesa de Gabriel estava impecável, organizada demais, como se fosse cenário e não trabalho. Mas havia uma gaveta trancada — sempre trancada.
Isabel pegou o molho de chaves sobre a mesa e experimentou uma por uma. Na terceira tentativa, ouviu o clique.
Dentro, pilhas de documentos, extratos bancários, e uma pasta marrom com o nome T.M. Holdings.
O mesmo nome.
O mesmo fantasma.
Ela se sentou, o coração acelerado, e abriu a pasta. Havia comprovantes de transferências recentes, assinados eletronicamente por Gabriel Ferraz. No rodapé, selo