A estrada se estendia diante dele como uma cicatriz de asfalto, iluminada apenas pelos faróis do carro. Adriano Monteiro mantinha o olhar fixo no horizonte, o rosto parcialmente escondido pelo capuz escuro que usava. O som do motor e o tamborilar da chuva no para-brisa eram o único compasso que o mantinha desperto.
Havia escapado. Mais uma vez.
O carro cruzava a fronteira de Valdívia quando ele acendeu um cigarro, tragando com calma, como se o perigo fosse apenas um detalhe. O motorista — um homem de poucas palavras, contratado a peso de ouro — não ousava falar. Adriano observava o próprio reflexo no vidro e quase sorriu. O rosto magro, a barba por fazer, o olhar febril: o retrato de alguém que perdera tudo, menos a vontade de lutar.
“Eles acham que me enterraram”, pensou. “Mas esqueceram que eu sou o coveiro.”
Horas depois, o carro parou em uma casa afastada, à beira de um lago. Era uma propriedade antiga, pertencente a um dos seus antigos associados — agora, convenientemente, desapa