O relógio marcava pouco depois das três da madrugada quando o telefone do solar voltou a tocar. Isabel atendeu num sobressalto; o coração já pressentia o pior. Do outro lado da linha, a voz trêmula de Clara parecia vir de um abismo.
— Isabel… houve um ataque.
— Um ataque? — a palavra saiu entrecortada. — Onde está o Gabriel?
Houve um breve silêncio antes que a advogada respondesse:
— Ele foi atingido. Está a caminho do hospital.
A caneca que Isabel segurava caiu de suas mãos, estilhaçando-se no chão. O som pareceu distante, como se o mundo tivesse se afastado.
— Onde? Qual hospital?
— No Santo Domingos, em Valdívia. Eu… eu tentei voltar, mas ele ficou para me proteger.
Isabel não ouviu mais nada. Correu para o quarto, vestiu o primeiro casaco que encontrou e chamou o motorista. Teresa apareceu no corredor, assustada com o barulho.
— Filha, o que aconteceu?
— Gabriel… — murmurou, os olhos marejados. — Ele está ferido.
A viagem até Valdívia foi uma sucessão de lembranças. Cada curva da