Capítulo 3

ALEXIA DINIZ

A porta da sala se abriu, e um homem ainda mais impressionante do que nas fotos entrou na sala. Alto, imponente, com uma presença que preenchia o ambiente, ele exalava uma aura de poder e mistério que era quase palpável. Seus cabelos escuros, ligeiramente desalinhados, emolduravam um rosto de traços fortes e olhos intensos. Ele parou abruptamente ao me ver, seus olhos arregalados, fixos em mim com uma expressão de choque quase palpável, como se tivesse visto um fantasma. O tempo pareceu congelar, o ar da sala se tornando espesso. Seus olhos escuros, cravaram-se nos meus como se tentasse desvendar um enigma.

— Alexia? — A voz rouca, carregada de uma emoção estranha e indefinível, escapou de seus lábios, quase um sussurro.

— É um prazer conhecê-lo pessoalmente, senhor Mancini — respondi, estendendo a mão para um cumprimento profissional, embora a estranha e intensa reação dele me deixasse profundamente intrigada.

Ele não pegou minha mão, continuou a me encarar, o choque em seus olhos dando lugar a uma intensidade confusa, quase beirando a fúria. A fisionomia dele se alterou, um misto de dor e raiva moldando seus traços. Sua mandíbula estava tensa, os punhos cerrados ao lado do corpo. O que estava acontecendo? Por que ele me olhava daquele jeito, com tal intensidade, como se eu fosse a materialização de algo terrível que ele jamais esperava ver? A atmosfera na sala mudou drasticamente, tornando-se pesada e carregada de uma tensão que eu não conseguia compreender.

Bento e Artturo também pareciam chocados, trocando olhares nervosos, como se estivesse testemunhando algo inacreditável.

Matteo finalmente quebrou o silêncio, sua voz, agora mais controlada, mas ainda áspera, era como um trovão distante.

— O que você está fazendo aqui? — Ele perguntou, seus olhos ainda fixos em mim, uma pontada de acusação nítida em seu tom.

— Sou a nova modelo da Mancini Starlight senhor, estou aqui porque fui chamada — respondi, minha voz um pouco vacilante, tentando manter a calma diante daquela hostilidade inesperada. Meu coração acelerou. Aquela recepção estava longe do que eu esperava.

Ele riu, um riso amargo e sem humor, que fez meus pelos se arrepiarem.

— Você não deveria estar aqui! — As palavras saíram como lâminas, cortando o ar e me atingindo em cheio. Cada sílaba carregada de uma dor e um rancor que eu não conseguia decifrar.

Artturo interveio, sua voz tentando suavizar a atmosfera.

— Matteo, por favor, contenha-se. Você está assustando a senhorita Lexie. Ela é uma das nossas contratações mais promissoras. — Havia um tom de advertência na voz do advogado.

— Promissora? Você não sabe o que está dizendo, Artturo. Ela é um erro. — Ele balançou a cabeça, descrença e fúria em seu olhar.

Minha mente girava. Um erro? Como assim? Eu não o conhecia. Não fazia a mínima ideia do motivo de tanta raiva. Aquela reação era completamente incompreensível para mim. Era como se ele estivesse me confundindo com outra pessoa, ou me julgando por algo que eu não tinha ideia do que era. Comecei a pensar que talvez, os rumores falsos que meu ex-namorado havia espalhado na minha antiga empresa no Brasil tivessem me seguido até aqui. Era a única explicação possível para tanta hostilidade de alguém que eu acabara de conhecer. Ele devia ter ouvido as mentiras e estava me julgando por elas.

— Eu não sei do que o senhor está falando. — menti, sentindo um calafrio percorrer minha espinha. A confusão se misturava ao medo.

— Você sabe sim! — Ele deu um passo em minha direção, e eu recuei instintivamente.

— Matteo, pare! — Bento se levantou, colocando uma mão no ombro do amigo.

— Não me toque, Bento! — Matteo se desvencilhou bruscamente. — O que diabos você estava pensando ao contratá-la? Você não leu o currículo dela direito? Você não fez uma pesquisa mais aprofundada?

Artturo e Bento pareciam genuinamente confusos e chocados com a explosão do Matteo.

— Eu contratei a melhor candidata, Matteo. O currículo dela é impecável. Ela é perfeita para o que buscamos. Não havia nada que indicasse qualquer problema. — Bento falou tentando se defender.

— Não importa! — Matteo berrou, a raiva transbordando de seus olhos. — Ela é alguém que eu não quero ver! Ela não devia ter pisado aqui!

Aquelas palavras me atingiram como um raio. O desespero começou a tomar conta de mim. Aquele homem me odiava com uma intensidade que eu jamais havia presenciado, e sem nenhum motivo aparente que eu pudesse entender.

Bento, visivelmente desconfortável, tentou intervir novamente.

— Matteo, talvez haja um engano.

— Não há engano, Bento! — Matteo o interrompeu, sua voz baixa e perigosamente calma. — Ela é exatamente quem eu penso que é. E a partir de agora, ela não trabalha mais para a Mancini Starlight. O contrato dela está cancelado.

Minha mandíbula caiu. Eu acabei de chegar, acabei de iniciar uma nova fase na minha vida, e em poucos minutos, tudo estava desmoronando diante dos meus olhos. A dor em seu rosto era tão profunda quanto a fúria. Ele estava agindo como se eu tivesse cometido um crime hediondo.

— O quê? Você não pode fazer isso! — Exclamei, a incredulidade e a raiva começando a se misturar ao meu medo.

— Eu posso e eu farei. Eu sou o CEO desta empresa. E eu decido quem entra e quem sai. E você está fora. Agora saia da minha sala. Saia da minha empresa. E não ouse aparecer na minha frente novamente. — Ele apontou para a porta, sua voz tremendo de raiva contida.

As lágrimas começaram a se formar em meus olhos, mas eu me recusei a deixá-las cair. Eu não daria a ele a satisfação de me ver desmoronar. Eu não iria perder mais um trabalho devido a acusações falsas a meu respeito. Será possível que mesmo longe do maldito do Lúcio, sua assombração ainda pairava no ar. Ele me difamou e isso vai me perseguir eternamente.

— Não sei qual é o seu problema comigo, senhor Mancini, e francamente, não me importa. Mas não admitirei ser maltratada nesta empresa. Quer me demitir? Ótimo! Então pague a indenização. Com licença, meu horário já terminou. Qualquer coisa fale com meu advogado.

Sem esperar por mais palavras, dei meia-volta e saí correndo da sala, deixando para trás o silêncio atordoado de Bento e Artturo e o olhar gélido de Matteo Mancini. O corredor parecia se estender infinitamente, e eu só queria chegar ao meu apartamento, ao meu porto seguro, e me esconder daquela realidade brutal que havia desabado sobre mim.

Continue lendo este livro gratuitamente
Digitalize o código para baixar o App
Explore e leia boas novelas gratuitamente
Acesso gratuito a um vasto número de boas novelas no aplicativo BueNovela. Baixe os livros que você gosta e leia em qualquer lugar e a qualquer hora.
Leia livros gratuitamente no aplicativo
Digitalize o código para ler no App