(POV Ivy)
O escuro foi a primeira coisa que aprendi a chamar de lar.
Não o escuro da noite, que respira com a lua e acalenta os lobos.
Mas o escuro da pedra fria, das correntes que rangem, do silêncio imposto.
O escuro da Ordem.
Fechei os olhos e, mesmo agora, anos depois, ainda sinto o cheiro da fumaça queimando a aldeia quando me levaram. O fogo subia alto, e eu corri. Corri como quem não tinha pernas, apenas instinto. Não corria por mim — corria por ela. Selene. Pequena, frágil, de olhos tão cheios de lua que a própria Deusa parecia ter se curvado para beijar aquela criança. Eu não podia deixar que a encontrassem.
Lembro da sensação das mãos ásperas me agarrando pelo cabelo. O grito que saiu da minha garganta não foi de medo, mas de fúria. Eles me arrastaram pelo chão batido, e ainda vejo a lua se escondendo atrás das nuvens como se tivesse vergonha de mim.
Fui caçada.
E caí.
Quando acordei, estava neste lugar.
Pedra. Ferro. Sangue.
A prisão da Ordem não é feita para homens comuns.