(POV Selene )
A primeira coisa que senti foi o peso. Não da coberta áspera sobre meu corpo, mas do selo queimando no peito, latejando como lembrança viva da noite que não devia ter existido — mas existiu.
Abri os olhos devagar. O teto de madeira da cabana me recebeu com suas rachaduras antigas, desenhando mapas que eu nunca quis ler. Suspirei, e aí o vi.
Elias.
Deitado ao meu lado, o braço jogado sobre o travesseiro como se o mundo não fosse guerra. O rosto marcado pela vida de caçador parecia, por um instante, tranquilo. Tranquilo demais para alguém que carrega tanta raiva.
E aí veio o pensamento que não pedi, que escapou antes que eu pudesse segurar:
Por que a maldição tinha que cair justamente sobre alguém tão bonito?
Fechei os olhos de novo, envergonhada de mim mesma. Não era hora de rir. Não era hora de desejar. Mas, céus, a Deusa tinha gosto cruel em ironia. Elias era fúria, era lâmina, era corrente — e ainda assim o traço do maxilar dele, a barba por fazer, os cílios longos que