(POV Selene)
O sono não veio. Nem por um segundo. Passei a madrugada inteira ouvindo meu próprio coração, sentindo o selo latejar como se fosse um tambor enterrado dentro do meu pulso. A cada batida, parecia mais vivo, mais íntimo, mais ameaçador. Deitei, fechei os olhos, mudei de posição, mas nada me desligava. Era como se algo me chamasse para fora, uma voz sem som que só eu conseguia ouvir.
Quando o dia enfim clareou, eu já estava de pé, como se tivesse esperado por uma ordem invisível.
O depósito estava silencioso demais. O vento assobiava pelas frestas das janelas quebradas, e cada estalo do metal parecia uma promessa ruim. Eu respirava devagar, tentando me convencer de que estava no controle, mas minhas mãos tremiam.
Então os passos ecoaram pelo concreto, firmes, pesados, como marteladas ritmadas.
Ronan apareceu primeiro. Ombros largos, expressão dura, olhos escuros como a noite. Ele não precisava falar para impor respeito — a presença dele já enchia o espaço como uma muralha.
—