(POV Selene)
O depósito ainda estava no mesmo lugar, mas nada nele parecia igual. Desde o selo, o ar parecia mais denso, as sombras mais vivas. Até o silêncio tinha um peso novo, como se respirasse comigo.
Eu estava de pé, ainda dolorida da noite anterior. O casaco da minha tia repousava dobrado sobre a mesa, lembrança e ameaça ao mesmo tempo. Não queria encostar nele. Cada vez que olhava, lembrava do bilhete. “Não venha.” Mas já era tarde para isso.
— De pé. — A voz de Ronan cortou o ar, firme, dura como pedra batendo em ferro. Ele atirou uma lâmina curta na minha direção. — O corpo aprende antes da mente.
A lâmina quase escapou da minha mão. Os dedos doíam do treino de ontem, mas fechei o punho até sentir a pele arder.
— Segura firme. — Ele se aproximou e empurrou meu ombro para trás, corrigindo a postura. O toque foi brusco, mas preciso. — Assim, você só serve pra se cortar sozinha.
— Porra, Ronan… — Dorian entrou na sala, a voz baixa, grave, mas carregada de peso. — Ela não é