(POV Ivy)
A dor não foi embora quando as correntes caíram.
Ela só aprendeu a mudar de forma.
Às vezes vinha como um frio no peito.
Outras, como lampejos de luz vermelha atrás das pálpebras fechadas.
Mas o que mais doía era o silêncio.
Depois de meses ouvindo o eco das torturas da Ordem, o silêncio da montanha dos Exilados me parecia antinatural, cruel.
A fenda era viva — um lugar de lobos, pedra e sussurros.
Eles andavam devagar ao meu redor, me observando como se eu fosse algo entre milagre e maldição.
Eu não os culpava.
Nem eu sabia o que era, afinal.
Sentei-me perto da fogueira central, o fogo estalando como se respirasse junto comigo.
A pele ainda carregava cicatrizes que nem o toque da Lua curava.
Cicatrizes de ferro e prata — lembranças daquelas mãos frias que tentaram quebrar o selo à força.
O vento da noite trazia cheiro de pinho e sangue seco.
E lá no alto, a Lua…
Tão vermelha que parecia feita do mesmo fogo que queimava dentro de mim.
Selene apareceu em silêncio, como sempre