(POV Elias Drave)
A chuva começou antes do amanhecer.
Fria, constante, o tipo de chuva que parece querer lavar pecados — mas só espalha o sangue.
Sentei-me na entrada da cabana, os cotovelos apoiados nos joelhos, observando as gotas baterem na terra endurecida.
O cheiro de ferrugem e fumaça ainda impregnava o ar.
O cheiro da guerra nunca vai embora.
Ele só muda de lugar.
Minhas mãos estavam sujas — e eu nem sabia mais se o sangue nelas era dos caçadores, dos lobos ou meu.
Talvez fosse de todos.
Desde a batalha, o selo não parava de pulsar.
Às vezes era só um calor incômodo no peito.
Outras, era dor. Dor real, ardente, viva.
Como se a marca tentasse me lembrar de algo que eu tentava esquecer.
Selene.
O nome dela ecoava na mente como maldição.
Cada vez que eu tentava afastar, o selo me puxava de volta.
Cada vez que eu lembrava o rosto dela coberto pela luz da Lua, o coração batia descompassado — não por vontade, mas por obediência.
Era isso que me matava: o corpo obedece