O lago que dormia no centro do vale começou a se mover.
As águas, antes claras e imóveis, tornaram-se negras como ferro líquido.
E do fundo, um som baixo e constante emergiu — o bater de um coração que não devia mais existir.
Erynn foi a primeira a perceber.
Estava em prece quando o gelo sob seus pés vibrou.
Olhou para o horizonte e sentiu o ar esquentar.
— Ele está tentando voltar — murmurou.
Kael ergueu o olhar.
O reflexo da lua tremia na superfície da água.
E dentro dele, uma sombra lutava para nascer.
Kaen.
Aren sentiu o chamado antes de qualquer um.
O corpo dele queimava por dentro, como se o sangue buscasse fugir das veias.
Correu até o lago, o vento abrindo caminho.
Kael tentou segui-lo, mas o ar o repeliu — o Norte não queria testemunhas.
Quando Aren chegou à margem, a água já fervia.
O reflexo se ergueu em forma humana:
os olhos vermelhos, o corpo feito de sombra viva.
— Irmão — disse Kaen, sorrindo. — Vieste me despedir?
— Vim te libertar.
— Libertar? Eu sou