Na manhã em que o vento virou do leste, o Norte acordou com gosto de sal na boca.
Não era comum.
O leste ficava além das montanhas, atrás de um mar que os mapas chamavam de Dormido — mar que, segundo as velhas, só respirava quando queria lembrar os homens de que o mundo não termina no gelo.
Helena sentiu primeiro.
Acordou com o som das conchas — pequenas peças de vidro e sal que pendiam na janela — tocando umas nas outras como sinos tímidos.
O selo em seu ombro vibrou, a linha dourada respondeu.
Ao lado, Lyria dormia tranquila, os cílios brancos nas pontas.
Mas cada vez que a menina inspirava, uma maré invisível subia e descia dentro do quarto.
Kael abriu os olhos em silêncio.
O corpo dele tinha lembranças de batalha gravadas na carne, mas agora o que o despertava não era dor: era pressentimento.
Ele escutou.
Por baixo do som do vento, havia outra coisa — uma espécie de canto sem letra, um murmúrio que se desfazia antes de virar palavra.
— O leste fala — disse, com a voz nova, grave,