O vento mudou naquela madrugada.
Não rugia, não cantava.
Sussurrava nomes.
Helena acordou com o som, o coração acelerado.
O fogo na lareira queimava baixo, mas o quarto parecia repleto de presenças invisíveis.
O selo em seu ombro pulsava em prata; o traço dourado, logo abaixo, respondia em vibração sutil.
Ela levantou-se, enrolando o manto em torno do corpo.
Ao abrir a janela, o frio entrou como uma respiração viva.
A neve caía em espirais lentas, e o vento parecia brincar com ela — formando rostos efêmeros, rostos que logo se desmanchavam.
Helena Morel.
A voz veio do ar.
Filha da ponte. Herdeira da fenda.
Ela fechou os olhos, tentando se convencer de que era sonho.
Mas o vento insistiu.
Escuta o que esquecemos.
Um clarão azul iluminou o horizonte.
E, por um instante, ela viu — nas montanhas, figuras translúcidas caminhando sobre o gelo.
Lobos imensos, guerreiros com armaduras de vento, mulheres com olhos prateados.
E, entre eles, uma presença familiar: Lyra.
— Não pode ser — sussurro