O rugido de Kael atravessou o mundo como uma lâmina.
Não era som.
Era vibração, carne e gelo se partindo.
Era o chamado do que dormia.
As montanhas responderam primeiro.
As geleiras tremeram, rachando como espelhos sob peso divino.
Depois vieram os lobos — centenas, milhares — uivando em coro, num lamento que misturava dor e reverência.
E, por fim, o próprio chão abriu os olhos.
Do ventre da terra brotaram sombras — antigas, pesadas, com cheiro de ferro e neve.
Feras moldadas de lembrança e sangue, presas por séculos nas veias congeladas do Norte.
O rugido as libertou.
Helena assistia tudo da muralha, o vento arrancando o capuz de sua cabeça, os cabelos dançando como chamas negras.
A marca em seu ombro brilhava com o mesmo tom das fendas que se abriam abaixo.
Era como se a terra sangrasse luz.
Erynn lutava para manter-se de pé, o cajado cravado no gelo.
— Ele abriu o véu! — gritou. — O sangue do Alfa chamou o eco!
Helena correu até Kael, que permanecia ajoelhado, o corpo arqueado, o o