O Norte não dormia mais.
Nem os lobos.
Nem os homens.
O vento soprava em direções opostas, e os tambores nas vilas ecoavam sem ordem, como corações descompassados.
A lua — metade prateada, metade dourada — pairava sobre o castelo, refletindo a divisão que crescia por toda parte.
Helena observava o horizonte do alto da muralha.
Lá embaixo, tochas se moviam.
A tropa do leste, leal ao Conselho, marchava em silêncio, sem cantar o hino dos clãs.
Quando a canção morre, dizia Erynn, o Norte se prepara para matar.
Ronan subiu as escadas, a capa manchada de gelo.
— Eles não obedecem mais às ordens diretas do Alfa — disse, baixo.
Helena não tirou os olhos do vale.
— É medo.
— É fé — corrigiu ele. — Fé no antigo rugido. E medo do novo silêncio.
Ela respirou fundo, o ar queimando.
— Onde está Kael?
— Na câmara do fogo. Não fala, não dorme, não come.
— E você o deixou sozinho?
Ronan a encarou, cansado.
— Não se deixa sozinho quem já carrega dois dentro de si.
Kael estava sentado diante da lareira,