A respiração de Isabela estava apressada, não pelo medo, mas pela adrenalina que corria em suas veias. Em vez de fugir, ela se mantinha imóvel, absorvendo cada detalhe ao redor. O espaço escuro e abafado do prédio abandonado parecia mais uma armadilha do que um cenário de investigação. A luz que entrava pelas janelas quebradas criava padrões irregulares no chão, como se o próprio lugar enviasse um aviso silencioso.
Enquanto avançava cautelosamente pelo corredor coberto de entulho, o eco de passos distantes ressoava em sua mente. Essa não era a primeira vez que sentia aquele arrepio na espinha, mas havia algo diferente — um pressentimento que a empurrava para frente, mesmo quando a voz de Tânia ecoava em sua consciência: "Isabela, você não é uma super-heroína. Cuide-se!" As palavras da amiga reverberavam, mas a determinação de Isabela era mais forte. O que estava em jogo era maior do que suas inseguranças. Uma porta rangeu ao ser empurrada por uma corrente de ar, e ela se virou bruscamente, o coração disparado. Não havia ninguém, mas a sensação de estar sendo observada era quase palpável. — Calma, Isabela. Você pode fazer isso — murmurou para si mesma, tentando reunir coragem. Um estalo ao longe fez seu corpo se contrair. Rapidamente, escondeu-se atrás de uma pilha de caixas de papelão, a mente trabalhando a mil para analisar a situação. A câmera em suas mãos parecia mais pesada do que nunca — um fardo e uma bênção ao mesmo tempo. Através de uma fresta, avistou um grupo de homens conversando em voz baixa, gesticulando de maneira conspiratória. O cheiro de cigarro e suor invadia o espaço, misturando-se à poeira. Era evidente que algo sério estava acontecendo. Isabela precisava de provas, mas isso colocaria sua segurança em risco. Seu coração batia forte. Por um instante, pensou em Rafael. “Ele saberia o que fazer…” Mas confiar em um ex-militar que vivia na fronteira entre o bem e o mal era arriscado. Ainda assim, quem mais poderia ajudá-la a decifrar aquele cenário? Determinada, ajustou a câmera. Encontrou uma posição melhor e, com um movimento ágil, disparou o obturador. O clique ecoou como um tiro no silêncio. Um dos homens se virou de súbito, os olhos arregalados. — Quem está aí?! — gritou, a voz carregada de raiva e desconfiança. O pânico subiu pela espinha de Isabela, mas não havia tempo para hesitar. Lançou-se em uma corrida apressada, os ecos de seus passos misturando-se ao grito atrás dela. — Isabela, espere! — A voz que cortou o ar era familiar. Ela parou abruptamente, quase perdendo o equilíbrio. Das sombras, surgiu Rafael, com o olhar intenso que a fez sentir uma mistura de alívio e confusão. — O que você está fazendo aqui? — ele perguntou, a urgência na voz revelando que também não estava ali por acaso. — Eu... eu precisava saber o que estava acontecendo — respondeu, tentando recuperar o fôlego. — E você? — Eu tive um pressentimento. — O semblante dele ficou grave ao olhar na direção de onde ela viera. — Precisamos sair. Agora. Sem esperar mais explicações, Isabela o seguiu. A adrenalina ainda pulsava em seu corpo, mas agora não era só medo — havia uma estranha sensação de conexão entre eles. Rafael a guiou por um caminho que ela jamais teria encontrado sozinha. Enquanto corriam, algo mudava. A tensão que antes era desconfiança transformava-se em um fio tênue de confiança, um entendimento silencioso. Ao chegarem a um beco estreito, Rafael parou e virou-se para ela, o olhar queimando de intensidade. — Você não pode mais fazer isso sozinha, Isabela. Isso é maior do que nós dois. Ela assentiu lentamente, absorvendo a realidade da situação. — Eu sei. Mas... é difícil confiar em você. — E é difícil confiar na verdade. — A sinceridade em sua voz quebrou uma barreira invisível. — Mas precisamos um do outro. Para sobreviver. O silêncio entre eles foi carregado de promessas não ditas e medos compartilhados. Isabela percebeu que, apesar dos perigos, uma nova chama surgia. Juntos, poderiam enfrentar o que viesse — mesmo que isso significasse confrontar os próprios demônios. Mas no fundo ela sabia: a batalha estava apenas começando.