O som dos passos de Isabela ecoava no corredor estreito de um prédio abandonado, cada ruído lembrando-a de que estava sozinha — ou pelo menos acreditava estar. A luz fraca atravessava janelas quebradas, projetando sombras longas que dançavam nas paredes, como se zombassem de sua determinação. O ar cheirava a mofo e ferrugem, impregnado de uma urgência silenciosa.
— Rafael, onde você está? — murmurou, a voz quase engolida pelo silêncio opressivo. As palavras dele na última conversa ainda ecoavam em sua mente. Ele mencionara um informante capaz de fornecer informações cruciais sobre o cartel de armas. Mas confiar nele continuava sendo um risco. Isabela parou, escaneando o ambiente. O coração acelerava. O que buscava não era apenas uma matéria — era a verdade que poderia salvar vidas. Ainda assim, a dúvida insistia: Rafael era um aliado ou um perigo? Ele era um enigma, uma combinação de charme e mistério que a atraía e a assustava. “É hora de descobrir”, pensou, ajustando a câmera que carregava no pescoço. Seus dedos percorreram a superfície fria do equipamento antes de disparar um clique. A luz piscou, registrando a imagem do corredor escuro — um testemunho silencioso do que estava prestes a acontecer. De repente, um barulho ao fundo quebrou o silêncio — o arrastar de pés. Isabela endireitou-se, os olhos arregalados. Seria apenas fruto de sua ansiedade ou realmente havia alguém ali? A adrenalina tomou conta dela. Com um movimento rápido, se escondeu atrás de uma pilha de caixas enferrujadas. O coração batia num ritmo frenético, como uma contagem regressiva. — Quem está aí?! — gritou, a voz mais firme do que se sentia. O eco respondeu, mas ninguém apareceu. O tempo parecia se arrastar, a tensão quase sufocante. Respirando fundo, Isabela tentou controlar o medo. O que não sabia era que a teia do contrabando se estendia muito além daquele corredor, envolvendo-a em um jogo que escapava ao seu controle. Finalmente, a porta no fim do corredor rangeu. Uma figura surgiu. Rafael. Seu semblante estava mais sério que o habitual, mas havia familiaridade em seus olhos. — Isabela — disse ele, a voz baixa, quase um sussurro. — Você não deveria estar aqui. — Precisamos falar sobre o informante. — A determinação de Isabela ressurgia. — Não posso esperar mais. Rafael hesitou, uma sombra de preocupação cruzando seu rosto. — Isso é mais complicado do que imagina. Henrique está atento. Ele sabe que você está se aproximando do cartel. — Então temos que agir agora. — A adrenalina dela voltou, mas não era só medo — era sede de justiça. Rafael a observou com intensidade. — Você não percebe o perigo? Não posso deixar que se coloque em risco assim. — E o que é risco para mim, senão um passo mais perto da verdade? — retrucou Isabela, a voz carregada de frustração. — Preciso de você, Rafael. Não só como informante, mas como alguém que entende o que está em jogo. Ele respirou fundo, ponderando. — Se quiser minha ajuda, precisamos de um plano. O cartel não vai se entregar facilmente. E Henrique... ele não tem hesitação alguma. — Eu não tenho medo dele. — Isabela firmou-se. — Vamos expor essa rede. Juntos. O silêncio que se seguiu foi denso. A conexão entre eles parecia se intensificar junto com o risco. Por fim, Rafael assentiu, relutante. — Então vamos fazer isso, mas sob minhas condições. Primeira delas: você precisa confiar em mim. Isabela o encarou, o coração acelerado diante daquela promessa velada. — Só se prometer que não vai me deixar para trás. — Não posso prometer isso. — O olhar dele era sério, mas firme. — Mas farei o que puder para mantê-la a salvo. Na penumbra do prédio, uma aliança improvável começava a se formar. A teia do contrabando entrelaçava não só o destino de dois indivíduos determinados a desafiar o cartel, mas também os laços que nasciam entre eles — frágeis, intensos e perigosos. Enquanto a noite caía sobre São Paulo, a cidade seguia pulsando. Para Isabela e Rafael, porém, tudo se resumia a um único objetivo: desmascarar a corrupção que ameaçava engolir suas vidas — e talvez descobrir algo ainda mais profundo entre eles.