Isabela caminhava pelas ruas de São Paulo, a mente fervilhando de pensamentos que se entrelaçavam como fios de um novelo emaranhado. A cidade pulsava à sua volta, mas cada esquina parecia sussurrar segredos, refletindo a confusão interna que a consumia. Seu coração não batia apenas pela adrenalina da investigação — a dúvida a corroía: confiar em Rafael ou manter a desconfiança?
Ela se afastara do bar onde sombras pareciam dançar em desafio, mas não conseguia se livrar da imagem de Rafael. O ex-militar, com olhar penetrante e sorriso enigmático, perseguia sua mente como um eco de suas inseguranças. Confiar nunca fora fácil, ainda mais em um homem envolvido com o submundo. Mas o que seria mais arriscado: trazê-lo para sua vida ou afastá-lo? Perdida em seus devaneios, Isabela foi surpreendida pela presença de Tânia. A amiga surgiu entre a multidão, o olhar preocupado. — Você está com cara de quem viu um fantasma. — E se eu realmente tiver visto? — Isabela soltou um suspiro irônico. — Estou mais perto de descobrir algo grande, mas isso significa me expor a riscos enormes. E Rafael... não sei se posso confiar nele. Tânia cruzou os braços, expressão cética. — Deixe-me adivinhar: você está tentando decidir se ele é o vilão ou o herói da história? O que você realmente quer dele, Isabela? E o que ele quer de você? As perguntas ecoaram dentro dela como um tambor. A conexão com Rafael era inegável, mas e se fosse apenas manipulação? — Atração não é suficiente para construir nada — confessou. — E se ele estiver só me usando? Tânia desviou o olhar para o movimento frenético ao redor. — Às vezes a vida exige um salto de fé. Você não pode deixar que o medo dite suas ações. Se não arriscar, nunca saberá que segredos ele guarda. Isabela respirou fundo. Aventureira e impulsiva, sempre fora a primeira a mergulhar em novas histórias. Mas agora, o que estava em jogo era mais do que uma matéria — era seu coração. A ideia de se abrir para Rafael a aterrorizava, mas a possibilidade de nunca saber o que poderia ter sido a inquietava ainda mais. — Você tem razão. — Ela ergueu o celular, decidida. — Preciso enfrentá-lo, mas não posso fazer isso sozinha. Digitou rapidamente uma mensagem: Precisamos conversar. É urgente. A resposta de Rafael chegou quase instantânea: Onde? — Ele respondeu — disse Isabela, sentindo a adrenalina retornar. — Vamos ao café na esquina da Rua Augusta. É discreto e, se der errado, temos uma saída rápida. O caminho até o café foi um misto de nervosismo e expectativa. O ambiente, com mesas rústicas e o aroma de café fresco, parecia acolhedor, mas a tensão em Isabela contrastava com a calmaria ao redor. Rafael já a esperava. Sua presença era inconfundível, o olhar carregado de preocupação. — Você parece tensa. Está tudo bem? Isabela respirou fundo. — Precisamos falar sério. Confiança é uma via de mão dupla, Rafael. E estou começando a me perguntar se você realmente está do meu lado. O olhar dele se aprofundou, revelando algo que Isabela não esperava: vulnerabilidade. — Eu entendo. Confiança é uma moeda rara no nosso mundo, mas prometo que não estou aqui para te machucar. A conversa fluiu intensa, cada palavra carregada de peso. Discutiram riscos, motivações e verdades não ditas. A conexão, antes apenas física, começava a se transformar em algo mais profundo, revelando camadas que ambos tentavam esconder. Mas Isabela sabia: a verdadeira prova de confiança ainda estava por vir. Enquanto as sombras da cidade dançavam do lado de fora, ela compreendeu que, para enfrentar o fogo do desejo, precisaria encarar seus medos mais íntimos. E decidiu, com firmeza renovada: independentemente do que acontecesse, escolheria a verdade — sobre Rafael, sobre sua investigação e, sobretudo, sobre si mesma.