As luzes neon do bairro da Liberdade piscavam como estrelas distantes, refletindo a energia frenética de São Paulo. Isabela caminhava rapidamente, os passos ressoando sobre as calçadas irregulares. O cheiro de comida de rua misturava-se ao aroma do asfalto quente, criando um pano de fundo familiar que sempre a acolhia. Mas naquela noite, havia algo diferente: uma tensão no ar, um pressentimento que a fazia acelerar o passo.
— Isabela! — A voz de Tânia ecoou, interrompendo seus pensamentos. A amiga surgiu de repente, com um sorriso que misturava preocupação e exasperação. — Você não vai acreditar onde deixou o carro! Isabela revirou os olhos, mas não conteve um sorriso. — O que foi desta vez? Deixei no estacionamento da redação, certo? — Não exatamente. Aparentemente, você decidiu que o melhor lugar para estacionar era na porta do bar do Rafael. — Tânia cruzou os braços, a expressão agora mais séria. — O que você está fazendo, garota? Isso não é só uma investigação, é um campo de minas! A lembrança do olhar intenso de Rafael ainda queimava em sua mente, mas Isabela não estava disposta a admitir que ele a deixava inquieta de uma forma que ultrapassava a curiosidade profissional. Ela hesitou, buscando as palavras certas. — Eu só... precisava de uma informação, Tânia. Não é como se eu tivesse ido atrás dele de propósito. Tânia arqueou uma sobrancelha, mas antes que pudesse responder, um grupo de homens passou rindo e discutindo. Um deles, mais alto e com uma tatuagem visível no pescoço, lançou um olhar desafiador para as duas. A tensão imediata fez com que se entreolhassem — não estavam seguras. — Vamos, é melhor irmos para um lugar mais tranquilo — sugeriu Tânia, puxando Isabela pelo braço. Elas atravessaram a rua e entraram em um café acolhedor, onde o ambiente era mais calmo, com mesas ocupadas por casais e grupos de amigos. Sentaram-se perto da janela, e Isabela tentou recuperar a normalidade da conversa. — Eu realmente preciso dessa matéria para a próxima edição. O que você pensa sobre isso? — perguntou, mudando de assunto. Tânia balançou a cabeça. — Você está obcecada. Não digo que não deva seguir a história, mas, por favor, cuide de si mesma. Não vai conseguir desmascarar um cartel de armas se for você quem acabar virando notícia. Isabela suspirou, a frustração crescendo dentro dela. — Eu sei, eu sei. É apenas que... — Ela hesitou, lembrando-se do olhar de Rafael. — É complicado. Não sei se posso confiar nele, mas ele pode ser a chave para descobrir tudo isso. — E se ele for a chave para algo mais? — provocou Tânia, um sorriso travesso nos lábios. — Não é isso! — Isabela exclamou, mas no íntimo não conseguia negar a possibilidade. A razão e a atração lutavam dentro dela. Uma parte desejava que houvesse mais do que apenas uma conexão profissional. A conversa seguiu, cheia de risadas e desabafos, mas a mente de Isabela vagava. O que seria de sua vida se arriscasse a confiar em Rafael? Ele poderia ser o aliado que precisava — ou uma ameaça. Essa dualidade a consumia, como as luzes da cidade refletidas em um espelho quebrado. De repente, o celular de Isabela vibrou sobre a mesa. Uma mensagem de número desconhecido fez seu coração disparar: “Você está mais perto do que imagina. Cuidado com quem confia.” O frio percorreu sua espinha. Tânia percebeu a mudança em sua expressão. — O que aconteceu? Isabela olhou novamente para a tela, a mensagem pesando como uma ameaça silenciosa. — Parece que alguém sabe o que estou fazendo. Tânia inclinou-se para frente, os olhos brilhando entre curiosidade e preocupação. — Você acha que é do Rafael? — Não sei. — Isabela balançou a cabeça, a determinação retornando. — Mas isso só me faz querer ir mais fundo. Temos que descobrir quem está por trás disso! Com novo foco, levantaram-se. O café, que parecia um refúgio, agora era apenas uma pausa temporária. Do lado de fora, a cidade caótica se estendia diante delas — cheia de segredos e perigos. Enquanto caminhavam pela calçada, Isabela sentia o peso da decisão crescer. O que quer que estivesse à frente, a verdade estava mais próxima do que nunca. E ninguém a impediria de alcançá-la. São Paulo, com seus mistérios e desafios, tornava-se o palco de uma nova fase em sua vida.