LUANA POV
A chuva castigava as ruas da Cidade A como se o céu tentasse lavar os pecados das famílias.
Luana corria com as malas, o capuz encharcado, o som dos relâmpagos engolindo os próprios pensamentos.
Não havia volta.
Deixara para trás o palácio de vidro, os corredores cheios de ecos da mãe e o nome Monteiro, que agora lhe soava como maldição.
O vento trazia o cheiro de ferro e maresia.
Os carros-autônomos passavam ao longe, refletindo luzes vermelhas sobre as poças d’água.
Ela parou sob uma marquise, o coração batendo depressa.
Os dedos apertavam a alça da mala como se segurassem a própria identidade.
“Entre o passado e a tempestade”, pensou — as palavras que Gabriela sempre usava quando queria lembrá-la de quem devia ser.
Mas agora o passado era uma casa em ruínas.
O som de passos aproximando-se fez com que ela erguesse o olhar.
Uma silhueta surgia da neblina — alta, envolta em casaco escuro.
Por um instante, pensou que fosse um segurança enviado pela mãe.
Dep