Aposto que viu os copos na sala e já criou mil teorias.
Marina
Acordo com um raio de sol esgueirando-se pela fenda das cortinas, como se quisesse me cutucar. Espreguiço-me devagar, sorrindo ao lembrar do beijo que lhe dei ontem à noite. Beijei. Eu. Eu mesma puxei aquele homem e encostei minha boca na dele como se o mundo estivesse acabando. E talvez estivesse mesmo — o meu, pelo menos.
Não deveria estar tão feliz. Mas estar nos braços dele, sentir os lábios que me assombram há noites... isso mexe comigo. E muito.
Pego o celular. Várias chamadas da Becca. Uma mensagem:
“Oi Marina. E aí? Como andam as coisas? E o italiano mafioso? Evoluíram as coisas entre vocês dois? Ontem tentei te ligar, mas só caía na caixa postal. Novidades, me liga!”
Digito rápido:
“Sem novidades, querida. Quando eu tiver, eu ligo.”
Ninguém sabe da minha amnésia. Não contei para Becca, nem para ninguém. Evito os olhares de pena, os tapinhas nas costas, a frase "coitadinha, sem passado". Odeio isso. Sempre achei que, sendo órfã, não devia haver muita coisa boa para lemb