Ela o odiou desde o primeiro momento, mas o príncipe vampiro, por capricho, a manteve ao seu lado. Em um mundo dominado por raças superiores, humanos eram apenas alimento e mão de obra, no entanto, não se conhecia outra realidade, desde o início foi assim. Hanna, apesar de humana, tinha alguma liberdade por trabalhar no campo servindo a sua própria raça. Ela nunca aprendeu a se submeter diretamente a um vampiro e quando é chamada para servir ao príncipe vampiro, ela não consegue controlar sua rebeldia e insatisfação. Hanna o odiou desde o primeiro momento, mas Oryan, por capricho, a manteve ao seu lado. Hanna não teve opção a não ser servi-lo, mas permanecer ao lado de um vampiro em meio a um período onde uma guerra poderia acontecer a qualquer momento, iria lhe trazer muitos desafios. Em meio aos conflitos e inimigos, Hanna percebe que ser a serva do príncipe vampiro iria mudar sua vida completamente.
Leer másHanna
Sono…
A única coisa que sinto agora, é sono. Fora isso, o mau humor por ter sido acordada no meio da noite não podia ser evitado.
Não há nada que um ser humano preze mais do que uma boa noite de sono após um dia de trabalho pesado.
As ruas estavam cheias, vendas e bares abertos, assim como os bordéis onde os homens e vampiros se perdiam na luxúria. Mas minha vida não era noturna, a noite foi feita para dormir. Dormir muito.
— Ande, Hanna. Tem muito serviço a ser feito antes do rei chegar.
— Mãe, eu estou morta de sono, não tinha outra pessoa que a senhora pudesse chamar? Aquele castelo é cheio de servos.
— Não. — Ela praticamente cantarolou. — Eu preciso de alguém que possa confiar. O príncipe é exigente e não vou arriscar colocar alguém que não saiba o que está fazendo.
— E eu sei por acaso? Nunca servi um nobre, ainda mais aquele vampiro.
— Tome cuidado com seu tom. Não falte com o respeito.
— Não quis faltar com o respeito. É só que eu trabalho duro durante o dia. Por que tem que ser eu a virar a noite para servi-lo?
Minha mãe parou e ali mesmo no meio da rua movimentada, segurou em meus ombros.
— Minha filha, faça essa gentileza, sim? Sabe que não costumo pedir e eu disse a rainha que te buscaria. Você não quer colocar sua mãe em uma situação ruim, não é?
Ela fez uma cara sofrida, parecia um frágil ser machucado. E quem poderia negar algo a esses olhos azuis brilhantes e cabelos escuros cacheados esvoaçantes?
E, é claro, é minha mãe e tenho que obedecer.
Suspirei.
— É, acho que só por hoje não tem problema.
Voltamos a caminhar e olhei para o castelo, alto o suficiente para ser visto de longe. Várias tochas estavam espalhadas por seu entorno e em noites de lua cheia, ficava bonito, mas hoje o céu estava escuro, a lua estava em apenas um fino arco.
— O que aconteceu com o servo dele? — perguntei, não custava nada ficar bem informada.
— Sofreu um acidente enquanto polia algumas espadas. O corte em sua mão foi profundo e ele não podia trabalhar naquela situação. Foi um infeliz acontecimento, ainda mais no dia de hoje.
— Coitado.
— Mas não se preocupe, não precisará fazer nada disso.
Menos mal, eu não queria ter o mesmo fim que ele e eu precisava das minhas mãos para trabalhar. Imagino seu sofrimento, já devia ser triste o bastante servir àquele arrogante.
Droga, minha cama estava tão quentinha.
Bocejei mais uma vez e apressei o passo para ficar ao seu lado. Um vampiro que cuidava da sua segurança acompanhava de longe, já não me incomodava.
Eu, como filha única, procuro agradá-la, pois ela me permitiu ficar com meu pai. Bem, eles ainda são casados, mas é uma relação estranha.
A família dela sempre serviu aos reis, mas a do meu pai, sempre serviu aos humanos. Então, enquanto ela trabalha a noite, ele trabalha de dia. Eles marcam encontros, têm folgas, pois ela mora no castelo.
Enfim, parecem felizes mesmo assim e me dão muito amor. Também é raro vê-la, procuro não reclamar, pois ela sempre compensou o máximo possível nos nossos poucos momentos.
Na verdade, não tenho do que reclamar em nada na minha vida. Trabalho com o que gosto, no campo com as mãos na terra, tenho pais maravilhosos, alguns parentes que vejo às vezes e que, felizmente, todos têm o que fazer.
O reino também é bom e que eu saiba, os humanos sempre serviram aos vampiros. Eles nos protegem e mantêm nosso alimento, em troca fornecemos o nosso sangue.
É uma troca justa por tanta proteção, afinal, fora das muralhas, há predadores piores. Bom, e também existem leis bem estabelecidas a nosso favor.
Uma delas é a punição para vampiros que obrigam humanos a dar seu sangue, claro, isso não impede um ou outro, sempre existem as maçãs podres.
Eu nunca fui mordida, tive sorte e, segundo minha mãe, no castelo nem todos os servos dão seu sangue, cada vampiro tem seu harém com seus humanos.
Quando penso nisso mais a detalhes, agradeço pela sorte que tive ao nascer nessa família.
Antes de chegarmos, já percebi a agitação, mas dentro do castelo estava mais movimentado. Alguns servos limpavam o chão, outros acendiam mais velas no grande lustre no centro. Outros, apenas acompanhavam seus senhores.
— Sirae. — A voz de uma mulher se sobressaiu dos demais murmúrios ao dizer o nome de minha mãe claramente.
— Vossa majestade — minha mãe respondeu e nos curvamos quando chegou na nossa frente.
Ao ficamos eretas novamente, me deparei com o olhar afiado da rainha, mãe do rei e do príncipe. Vaeryssa Dravor. Suas íris vermelhas me causaram medo.
Assim como a maioria dos vampiros, ela tinha uma beleza extraordinária. Seus longos cabelos negros e lisos combinavam com a pele excessivamente clara. O vestido claro cheio de bordados e detalhes, era lindo. No entanto, minha admiração foi ofuscada por seu tom severo.
— É essa?
OryanHanna sugou meu lábio com força, ela gemeu e a afastei o suficiente para encará-la, seus olhos não pareciam focados. O cheiro de sangue nela estava forte, mas não era igual ao de antes, também havia o odor pútrido da magia negra.Ela amoleceu e a segurei antes que caísse, o coração do Morvain caiu no chão e no momento seguinte, Lucyan e minha mãe estavam ao meu lado. Permaneci olhando-a enquanto a acomodava em meus braços, ela cheirou-me e se inclinou para alcançar meu pescoço. Sua mordida foi forte, mas ela ainda não tinha presas para perfurar até as veias. — Parabéns, meu filho. Sua vitória foi gloriosa. — Eu digo o mesmo, irmão. Os Dravor provaram mais uma vez o seu valor. Hanna reclamou por não estar conseguindo tirar sangue, eu precisava cuidar dela. — Parece que ela está com sede. — Lucyan deu um pequeno sorriso. — Mas ela parece não entender ainda. — Vá, nós cuidaremos para que o tratado se cumpra. Sua companheira precisa de você agora, ela ainda está frágil e neces
HannaPisquei quando minha visão ficou turva, novamente aquela vertigem me abalou, o enjoo voltou, mas tentei ao máximo não demonstrar. A verdade era que eu sentia que ia desmoronar a qualquer momento.Mas eu precisava manter-me firme, não poderia atrapalhar Oryan. Ele precisa vencer.O Morvain sorriu, suas presas estavam aparentes e suas garras maiores, por alguma razão apertei minhas mãos em punhos, meus dedos estavam estranhos também. Eu realmente não conseguia me lembrar do que tinha acontecido, parecia que há instantes eu estava no meu quarto me arrumando para ir na plantação. Oryan atacou, suas duas espadas se chocaram com as duas do oponente, eu percebi um pequeno sorriso nos lábios de Oryan e por um momento, ele me olhou. Estremeci, um arrepio bom percorreu meu corpo e novamente, engoli a saliva que se formou em excesso quando olhei em seu pescoço. Uma sede inexplicável tomou conta de minha boca.Mas novamente, a tontura me atingiu e minha visão escureceu brevemente. O toqu
Hanna— Ótimo. Yuna, amarre panos novos no ferimento, por favor, seja rápida.Yuna pareceu simplesmente desaparecer no ar, poucos instantes depois, ainda no colo de Vron, ela trocou a faixa abaixo dos meus seios e não senti nenhum constrangimento quando ela afastou as alças do meu vestido o suficiente, eu também não sentia dor. Estranho.Eu também não me lembrava de como cheguei a essa situação, não lembrava de como me machuquei.Yuna ajeitou a parte de cima do vestido antes de dizer:— O rei vai sentir o cheiro dela antes mesmo que entre naquela arena — Yuna alertou com preocupação.— Bom, vamos torcer para que isso seja um incentivo e não uma distração. Não quero perder meu rei e amigo.— Vron, o que está acontecendo? Por que Oryan está em um duelo? — perguntei e ignorei o fato de Yuna esfregar um pano úmido em meu rosto. — É uma longa história, esse duelo vai decidir os rumos do reino Dravor daqui para frente. Oryan só sai desse dele de duas formas, vivo ou morto.Vron me apertou
Hanna— Eu sinto sua falta, Hanna…Oryan…Eu também sinto sua falta. Minhas pálpebras estavam pesadas, estava com sono, mas eu queria vê-lo. Que sensação estranha. Havia barulhos, o mar batendo nas ondas, o vento… Gritos furiosos, espadas…— Hmm… — Minha boca estava seca.— Hanna? — Franzi o cenho devido ao incômodo em meus ouvidos. Tentei abrir os olhos mais uma vez. O que estava acontecendo? Meu corpo estava pesado. Os cheiros estavam misturados, enjoativos. — Se concentre em minha voz, está tudo bem.Yuna. Por que estou assim? Era o que eu queria dizer, mas não consegui abrir a boca. Outra vez ouvi os gritos e as espadas se chocando. Alguém está lutando?Oryan…— Calma, tente abrir seus olhos.Minhas pálpebras tremulavam, não era dor que eu sentia, apenas uma sensação de peso. Pisquei tentando focar e aos poucos tudo foi ficando nítido, era o nosso quarto, eu conhecia aquele dossel vermelho com detalhes dourados. Yuna estava ao lado, ela sorriu e tentei respondê-la, mas ainda
Oryan— Ele aceitou — Lucyan disse ao colocar a mensagem sobre a mesa e o papel amarelado se enrolou novamente. Os demais ficaram em silêncio e eu os encarei por um momento antes de levantar e buscar mais vinho. A mesa estava cheia, havia documentos, um mapa grande o suficiente para quase ocupá-la e várias peças em madeira posicionadas nos lugares estratégicos. As miniaturas foram esculpidas por artesãos talentosos do reino Dravor. Enchi o cálice, mais dois dias havia se passado e tudo estava perto de um fim. Não o fim dessa guerra, pois nossos inimigos eram muitos, mas o fim dessa batalha. Depois disso, os Morvains nos deixariam em paz e não importava o resultado.— Preparem tudo. — Bebi um generoso gole e observei os generais saírem em silêncio, apenas Lucyan tinha ficado. Lucyan levantou depois de um tempo e colocou a espada na bainha. Ele me olhou com orgulho e preocupação. Eu sei que ele não duvidava da minha capacidade, mas era natural temer.— Eu vou preparar o documento fi
Oryan— Houve uma pequena reação. Veja aqui. — Apontou para as as veias em seu pescoço. — Algumas desapareceram. Seu coração continua imóvel, mas não há sinais de morte, sua carne está macia, firme. — Eu não entendo.— O veneno iria matá-la rapidamente, mas ela ingeriu um pouco do teu sangue, isso atrapalhou seu objetivo, no entanto, o veneno permanece agindo parcialmente. O que está a mantendo assim, é apenas o teu sangue que já circula pelo corpo dela.Hanna estava mais pálida e apesar de fria, sua carne estava realmente macia, um humano não ficava assim quando morria e já tinham se passado alguns dias.— O sangue dessa bruxa está muito consumido, mas felizmente, Hanabi me entregou um livro com algumas anotações antigas, ela disse que estava junto aos pertences de Valkyra. — Tem certeza sobre isso que está fazendo? — Voltei a encarar a ferida em suas costas. — Se eu disser que sim, estarei mentindo. — Minha mãe olhou para a bruxa que estava mais na frente. — Nas anotações, dizia
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