Lúcia
O dia se arrastava naquela quarta-feira. Era como caminhar em areia movediça: cada minuto parecia mais denso, mais lento. Eu ainda escutava o canto dos pneus da van branca naquela manhã, como um eco persistente cravado em minha memória. O susto não saía do meu corpo, mesmo que eu tentasse fingir que estava tudo bem.
Na prática, não havia descanso. Fui usada em todas as funções possíveis — menos como olfatista. Naquele dia, eu fui secretária, estagiária, office girl, e até quase faxineira novamente. Busquei café, levei papéis, imprimi relatórios, limpei as prateleiras de amostras com pano seco, como se estivessem cobertas de poeira emocional e não química. Tudo, obviamente, orquestrado por Isabela, minha chefe.
Ela não gritava, não fazia escândalo. Mas sua frieza era letal. Cada tarefa "improvisada" era um recado claro: você não pertence a este lugar. Seus olhos diziam mais do que palavras. Havia rancor ali. Raiva. Talvez ódio. E mesmo que eu soubesse que aquilo era um jogo de po