Algumas semanas depois, Alice assinava o contrato que a tornava oficialmente agente publicitária da nova empresa de Valentina. Ela mal acreditava no que acabara de assinar. Mas aquilo era apenas o começo. Não apenas pelo cargo da nova linha de Valentina, mas pelo que aquilo significava. Valentina estava construindo algo ambicioso, e ela seria uma das primeiras a ver de perto e ter melhores oportunidades de reconhecimento no mercado.
No final da tarde, Valentina a levou para conhecer o novo local de trabalho. O edifício ficava na Avenue, a poucos quarteirões da sede da Lancaster, e logo não se tratava de uma empresa comum. Ao cruzar as portas automáticas, Alice foi recebida por um ambiente que misturava elegância e inovação. A fachada era revestida de tijolos ecológicos e aço com paineis que cobriam parte da estrutura. Ao entrar, Alice sentiu o frescor do ambiente. O ar não era acondicionado de forma artificial, mas por um sistema de ventilação inteligente que regulava a temperatura com o mínimo de impacto ambiental. Havia claraboias estratégicas para permitir a entrada de luz natural, reduzindo o consumo de energia.
— Então, o que achou do conceito? — Valentina perguntou, observando cada reação de Alice.
— Isso é… fantástico! Diferente de tudo que já vi. — Alice sorriu, deslizando os dedos por uma bancada de vidro, observando os detalhes.
— Ótimo, quero que seja marcante para remeter ao conceito de desenvolvimento dos novos cosméticos. — Disse Valentina, seguindo pelas escadas rumo a parte dos escritórios.
Os escritórios eram amplos, um equilíbrio entre modernidade e sustentabilidade, com paredes de vidro fosco para dar privacidade sem impedir a circulação da luz natural. Mesas de madeira certificada, cadeiras ergonômicas e uma cafeteria exclusiva para os funcionários. O aroma do ambiente misturava lavanda e capim-limão, algo cuidadosamente pensado para estimular criatividade e relaxamento.
Valentina sentia empolgação com a surpresa estampada no rosto de Alice.
— Sabe, eu não queria só uma empresa. Queria um espaço vivo, que fosse um reflexo do que acredito. — Ela caminhou até uma prateleira de design minimalista, passando os dedos sobre os livros impecavelmente alinhados. — Sustentabilidade sem abrir mão da sofisticação.
Alice assentiu, impressionada.
Valentina destrancou a porta de seu escritório e Alice se deparou com um ambiente de tirar o fôlego, com estantes embutidas, sua mesa de vidro fosco e um painel de LED sutilmente iluminado. No centro, uma mesa de nogueira impecável. Uma sala imponente com janelas panorâmicas e uma decoração minimalista, mas luxuosa. Alice recebeu um espaço ao lado do dela.
— Esse aqui é o seu espaço — Valentina apontou para a sala ao lado.
Alice arregalou os olhos. Mal podia acreditar no privilégio. O escritório era sofisticado, mas com um toque próprio: havia um lounge, um sofá de veludo verde-escuro, uma mesa com estante embutida, e uma luminária pendente de design futurista.
— Isso é surreal… — Alice riu, girando sobre os calcanhares para encarar Valentina.
— Você merece. Mas quero te mostrar algo ainda mais especial para mim.
A conversa fluía entre as duas, e naquele momento, ninguém mais estava na agência. Alice foi a primeira a visitá-la antes da inauguração, o que a fez sentir-se honrada.
Valentina a conduziu de volta ao seu próprio escritório e trancou a porta com um clique silencioso. Depois, caminhou até uma parede de madeira e pressionou um painel oculto. Uma porta secreta deslizou, revelando um corredor iluminado por luzes azuis embutidas no rodapé.
— O que é isso? — Alice perguntou surpresa, com a voz quase em um sussurro.
— Não sei se você sabe, mas eu sou farmacêutica. Quero te apresentar minha preciosidade. — Valentina lançou um olhar intenso antes de começar a descer os degraus de metal.
Alice a seguiu hesitando.
— Alice, te apresento meu laboratório particular. Só eu tenho acesso.
O local era moderno e com um toque, refletindo a paixão de Valentina. Alice percorreu os olhos pelo ambiente. Era um espaço altamente tecnológico com bancadas de aço inoxidável que reluziam sob a luz fria, prateleiras recheadas de frascos e vidrarias organizadas com precisão. Alice ficou surpresa. Achava que já havia se impressionado o bastante com Valentina, mas percebeu que ainda era possível ficar mais admirada. Ela era de fato uma caixinha de surpresas.
O suspense pairou no ar. Alice sentiu um arrepio na espinha quando Valentina a fitou fixamente. A empresária afastou uma mecha de cabelo para trás da orelha e, abaixando-se, abriu uma gaveta e retirou um pequeno estojo preto. — Por favor, chegue mais perto – pediu Valentina, em tom baixo.
Alice hesitou, sentindo um frio percorrer o seu corpo. Aproximou-se com cautela, sem entender bem a situação.
— Prometa que não contará sobre isso a ninguém – insistiu Valentina.
Alice com receio assentiu, embora um misto de nervosismo e curiosidade a instigou. Antes que pudesse dizer algo, Valentina pousou suavemente a mão sobre seus lábios, silenciando-a com um sorriso. Ela abriu lentamente o estojo, revelando uma fileira de batons perfeitamente alinhados. No centro, um em especial chamava atenção: vermelho intenso, com um brilho acetinado.
A tensão foi quebrada pela empolgação com que Valentina apresentou o produto. O tom da voz de Valentina era hipnotizante, e a proximidade entre as duas tornava a atmosfera mais envolvente.
— O que exatamente esse batom tem de diferente? — Alice perguntou, tentando ignorar a sensação que começava a tomar conta dela.
Valentina sorriu de forma misteriosa e deu um passo para trás, segurando o batom entre os dedos. Pegou o celular e, usando a câmera como espelho, aplicou o batom lentamente nos lábios. Alice observou o brilho sofisticado que realçava a boca de Valentina.
— Ele é mais do que um simples cosmético — explicou. — Foi desenvolvido para proporcionar uma experiência sensorial única. Sua fórmula contém extratos naturais que estimulam a circulação sanguínea, aumentando a sensibilidade dos lábios e criando um efeito quente e levemente picante. Além disso, possui um aroma exclusivo que desperta os sentidos. Esse… é o Batom Pimenta.
A publicitária sentiu um arrepio. Ela piscou algumas vezes, absorvendo a explicação. Olhou para Valentina, que a encarava com aquele olhar sedoso e penetrante. Sentiu o calor subindo, sem saber se era efeito da proximidade ou da descrição do produto.
— Pimenta? — Alice ergueu uma sobrancelha.
Valentina sorriu, aproximando os lábios do ouvido de Alice e sussurrando:
— Sensações picantes.
Alice sentiu a respiração travar por um segundo. O tom de Valentina, o jeito como a observava… aquilo era muito estranho para ela.
Valentina observando a reação de Alice sorriu, cruzando os braços.
— O nome não é só por causa da cor intensa. Como expliquei, ele tem extratos naturais que provocam sensações na pele. Ardência leve, calor… — Valentina aproximou-se lentamente, os olhos fixos nos lábios de Alice. — Como se alguém estivesse beijando você… devagar.
— Quer testar? — Valentina sussurrou, erguendo o batom.
Alice hesitou. Cada célula do seu corpo estava alerta.
— Eu…?
Antes que ela pudesse terminar a frase, Valentina encostou suavemente a ponta do batom no lábio inferior de Alice, deslizando a cor com precisão. O toque quente, o aroma levemente picante… Alice sentiu um formigamento imediato, uma leve ardência deliciosa.
Valentina inclinou-se mais, os lábios perigosamente próximos da pele de Alice.
— Está sentindo? — murmurou, sem desviar os olhos.
Alice umedeceu os lábios instintivamente, sentindo a textura sedosa e o efeito eletrizante do batom.
— Isso é… intenso — admitiu, a voz ligeiramente falha.
Valentina sorriu com empolgação.
— Essa é a ideia! A propósito, não precisa ficar com medo… tenha coragem se quiser crescer no império dos negócios.
O silêncio entre as duas carregava eletricidade. Alice desviou o olhar, tentando recobrar o fôlego, enquanto Valentina fechava o estojo, satisfeita.
— Agora entende por que eu pedi segredo? Esse batom será um divisor de águas no mercado. Mas antes do lançamento oficial tenho que garantir o máximo sigilo, quero garantir que ele seja perfeito. E você, Alice, será parte fundamental nesse processo.
Alice riu, desviando os olhos para o reflexo no vidro de uma das prateleiras. Seus lábios estavam irresistíveis.
— Você realmente criou tudo isso sozinha?
— Claro! Ninguém pode tocar nas minhas criações.
Ela recuou apenas o suficiente para encará-la nos olhos.
— Agora me diga… você entendeu a proposta desse novo segmento? Não é apenas uma linha de luxo, mas um convite aos desejos ardentes.
Alice franziu o cenho, tentando reorganizar os pensamentos.
Valentina inclinou a cabeça, com o corpo encostado no balcão, analisando-a como se soubesse exatamente o que estava acontecendo na mente de Alice.
— Então… quer trabalhar com isso?
Alice sentiu um misto de empolgação e apreensão tomando conta de si, ela abriu a boca, mas travou. Nenhuma palavra saiu.