Vitório permaneceu imóvel por longos segundos, incapaz de processar o que seus olhos viam, o que seus ouvidos ouviam, o que seu corpo inteiro gritava para negar. O ar parecia espesso demais para entrar nos pulmões, o coração batia em um ritmo irregular, agressivo, como se tentasse se libertar do peito, numa sobrecarga desgovernada.
Aquela voz, aquele timbre grave, marcado pelo tempo e pela autoridade inata.
Aquela presença impossível.
Ele apertou a mão de Olavo com força, como se o toque pequeno e quente fosse a única âncora que o mantinha ligado à realidade.
— Que tipo de brincadeira perversa é essa, Rodolfo? — a voz de Vitório saiu baixa, rouca, carregada de uma fúria contida que tremia nas bordas. — Responda!… quem ousou fazer isso?
O mordomo não respondeu de imediato, parecia esperar por aquela reação. Em vez disso, caminhou lentamente até as portas duplas do quarto e as fechou com cuidado, o som pesado da madeira se encontrando ecoando como um veredito. Em seguida, girou a chave,