O cheiro de pólvora ainda estava no ar.
Parecia impregnado nas paredes da ONG Raízes do Morro, no chão da quadra que antes era brincadeira e agora era silêncio, e principalmente nas lembranças de quem sobreviveu à tempestade. O vento da manhã trazia poeira, mas também os ecos da noite anterior. Balas perdidas, gritos, correria. A violência tinha passado por ali feito vendaval — e o que doía agora era o vazio.
A quadra, onde geralmente ecoavam risos e sons de bola batendo no chão, estava vazia. Só as marcas no muro — perfurações feias, covardes, sujas — diziam que ali se lutava por futuro.
Isis estava sentada na mureta da entrada da ONG, coturno sujo de terra, braços cruzados, expressão travada. O olhar, perdido. Os olhos dela estavam acesos, mas distantes. Como se estivesse revendo tudo. Cada grito. Cada disparo. Cada criança que ela teve que esconder atrás de armários, de paredes finas como papel.
Theo chegou em silêncio, camisa suada, o rosto duro, a fúria contida nos punhos cer