Era pra ser só mais um dia de aula.
O cheiro de cuscuz fresco se misturava com o som das crianças jogando bola na quadra. Os voluntários chegavam aos poucos, vestindo o colete da ONG como se fosse armadura. Theo ajudava a colar um cartaz novo na parede da sala de leitura: "Meus sonhos cabem nesse mundo. E eu também."
— Ei, professor — chamou Bê, encostando na porta com o boné virado pra trás. — Ficou maneiro isso aí. Quase chorei.
— E você chora por alguma coisa, Bê? — Theo sorriu.
— Só quando o Flamengo perde e quando o gás acaba no meio do banho.
Eles riram. Riram de verdade.
Era aquilo. O improvável. O impossível. O milagre de paz no alto do morro.
Mas o futuro tem mania de ser interrompido.
PÁ. PÁ. PÁ.
Estalos secos rasgaram o ar, vindos do beco dos Pinheiros. O riso parou. As crianças congelaram. O mundo virou susto.
— Deita! — gritou Theo, cobrindo os pequenos com os braços.
Na rua, Barril puxava o rádio com a urgência de quem já viveu isso mil vezes. Doquinha saiu co