O amanhecer chegou com cheiro de pão e peixe, e o mar, mesmo longe do olho, encostava no ouvido em ondas pequenas. A caravana se mexeu cedo. Era o tipo de manhã em que ninguém precisava de palavra de ordem: as tarefas já tinham corpo próprio. As mulheres amarraram lenços, arrumaram cestos. Dois rapazes ajustaram as correias do burro, e os soldados de Don Vitório, mais atentos do que no dia anterior, vestiram a intenção de passar por invisíveis.
— Lembrem — disse o Gitano, ajeitando a faixa na cintura. — Entramos pela vida comum: compra de mantimentos, venda de panos, leitura de mão. O resto é música e olho.
O pai de Baran assentiu, rápido. — Nada de pressa. A pressa entrega o disfarce. E quem carregar criança tem prioridade na conversa — completou, olhando para as mulheres. — Criança desarma pergunta.
Baran encostou o ombro no de Luigi, num gesto que já virara senha de ensinamento. — Hoje você não fala com a boca, fala com os olhos. Aprende a ver