Algum tempo depois
EDUARDO
A rotina lá de casa começava a mudar. E pela primeira vez em muito tempo, era uma mudança que me trazia paz. Uma paz silenciosa, quase sagrada, que se espalhava pelos cantos da casa como cheiro de café fresco pela manhã.
Enzo já não acordava chorando no meio da noite. Os pesadelos, antes constantes e cruéis, estavam se tornando memórias distantes. As conversas com Clara, a psicóloga, estavam funcionando como mágica — não daquelas que estalam os dedos e tudo muda, mas daquelas que, gota a gota, vão lavando a dor. A cada sessão, ele voltava mais leve. Mais seguro. Mais inteiro. Meu filho, aos poucos, voltava a ser criança.
E ver isso nos olhos da Sofia... era como sentir o mundo girar no ritmo certo de novo. Tinha um brilho ali — aquele brilho que só uma mãe que quase perdeu o filho e o reencontra nos detalhes sabe reconhecer. Nos desenhos de dragões que sorriam em vez de cuspirem fogo. Nas casinhas tortas com telhados em forma de coração. Nos risos. Nos olhar