SOFIA
Eu não sou mais apenas a babá do Enzo. Isso ficou para trás há muito tempo. Agora sou parte dele. Parte da rotina, da memória afetiva, do carinho. Ele me chama de mãe. Me escolheu com a pureza que só uma criança pode ter. E por ele, eu moveria o mundo.
No mesmo dia em que recebemos a notícia da nova petição de Isabela, procuramos nossa advogada. O escritório dela é discreto, mas o ar ali dentro pesa. A tensão é densa, como se todos os casos empilhados nas estantes exalassem preocupação.
Ela nos recebe com um semblante sério, pastas nas mãos, óculos apoiados no meio do nariz. Mal sentamos e já sinto o coração acelerar, como se pressentisse o que viria.
— Contem tudo — ela pede, pegando a caneta como se estivesse prestes a registrar um crime.
Explico tudo. O vínculo. As mudanças. As falas de Enzo. O modo como ele me chama de mãe sem hesitar. Mostro fotos. Falo dos desenhos, dos vídeos que começamos a guardar. Me esforço para não chorar, mas minha voz falha em alguns momentos.