SOFIA
O sol nasceu tímido naquela manhã, se arrastando entre as nuvens como quem hesita em iluminar um mundo ainda ferido. E eu também hesitei. Sentada à mesa da cozinha, com as mãos em volta de uma caneca de café que já esfriava, sentia o coração pulsando alto demais, como se cada batida fosse um lembrete de tudo o que poderia dar errado.
Eduardo andava de um lado pro outro na sala, como uma alma em guerra. Cada passo era carregado de lembranças, de perdas, de batalhas vencidas com o corpo machucado e a alma em cacos. Não conseguia se sentar. Não conseguia respirar fundo. O silêncio entre nós era espesso como neblina.
— Vai dar certo — murmurei, mas a frase escapou da minha boca como um sussurro de quem implora mais do que afirma. Era mais pra mim do que pra ele. Uma oração disfarçada.
Ele parou diante da janela, os ombros tensos, o olhar fixo em nada.
— Eu quero acreditar. — A voz dele veio baixa, quase quebrada. — Mas depois de tudo o que a gente passou… confiar é mais difícil do q