EDUARDO
O tempo parecia desacelerar quando entrei no sobrado. O rangido da porta soou como um aviso sombrio. Cada passo meu era um golpe seco no assoalho podre, como se o chão reconhecesse o peso da raiva que eu carregava nos ombros. O cheiro de mofo, cigarro e derrota pairava no ar — o cheiro de um passado que eu enterrei a pauladas, mas que agora voltava, de terno amarrotado e olhos de predador.
Victor estava ali. Sentado à mesa como um demônio à espera de um ritual. O rosto mais magro, o cabelo grisalho disfarçado com tinta barata, mas os olhos… os olhos ainda tinham o mesmo veneno.
— Sabia que viria — disse, sem levantar o olhar. A voz dele era baixa, rouca, carregada de desprezo.
— Porque eu sou o único que ainda tem coragem de olhar na sua cara — respondi, trincando a mandíbula, o sangue fervendo nas veias.
Ele riu. Um riso seco, de escárnio. O tipo de som que só quem já perdeu tudo consegue emitir. Um homem quebrado, mas perigoso por isso mesmo.
— E eu sou o único que conhece t